quinta-feira, 24 de abril de 2008

Viajeros - nos fluxos da América do Sul

Recomeça a viagem pela América do Sul. O livro passou por diversas mudanças no processo de trabalho de conclusão de curso e ontem dei um "final cut". Até o nome mudou! Estarei postando um ou dois textos da viagem por semana, sem a divisão de capítulos que existe no livro (afinal, livro é livro, blog é blog). Última chamada para embarque!



Um velho sonho e uma mochila


Thiago e eu - foto de Manoela Paranhos


Não sei desde quando tenho essa vontade de viajar. Acho que desde sempre. Lembro que quando era criança eu queria muito ver neve e conhecer o Egito. Lá pelos treze anos queria ir estudar num colégio interno com umas amigas em Maringá. Meus pais não deixaram. Mais tarde, a onda era fazer intercâmbio. Minha mãe decidiu que receberíamos uma intercambista antes, para saber como era. E no ano 2000 chegou a Emma, da Austrália, que ficou um ano com a gente. Foi tão legal que até meu pai gostou. Falou em recebermos uma italiana. E em julho de 2001 foi a vez da Valentina, ela passou seis meses na nossa casa. Acabei desistindo do intercâmbio. Não sei, me pareceu meio parado ficar um ano em uma casa de família. Decidi adiar, sempre cogitando possibilidades, fazendo possíveis planos. Pensava muito na Itália, na Grécia - sonhos europeus.
Vim para Curitiba estudar Comunicação Social, e conheci o Thiago. Desde nossos primeiros momentos juntos fazíamos planos de viagem - não sabíamos muito bem para onde, como ou por quê; era simplesmente uma vontade de se aventurar pelo mundo. Trabalhamos no Banco do Brasil para juntar dinheiro. Passamos no concurso meio sem saber o que estávamos fazendo, quando vimos estávamos dentro de uma agência. Foi horrível, definitivamente um trabalho que não combina com nenhum de nós dois (verdade seja dita, acho que não combina com ninguém). Trabalhei seis meses, o Thiago onze.
Eu estava fazendo curso de italiano e procurando alguma bolsa na Itália. O Thiago pensava em viajar um pouco por países latino-americanos e depois me encontrar na Europa para mochilarmos juntos. Até que um dia caiu na minha mão uma edição especial da revista Caros Amigos sobre Che Guevara. Surgiu dentro de mim uma vontade imensa de conhecer a América Latina. Lembro que saímos empolgadíssimos do Cine Luz depois de assistir Diários de Motocicleta. Nós dois, conversando, descobrimos uma maneira de viajar e ainda fazer o TCC - Trabalho de Conclusão de Curso.
Claro! Faríamos nosso trabalho na viagem. Já tínhamos um motivo: "olha mãe, tô indo viajar pela América Latina." "Como assim, minha filha?!" "Não mãe, fica sossegada, vou fazer meu TCC. Vai ser um ensaio fotográfico sobre o músico latino-americano." Pronto. Atendidas as normas de segurança social, era hora de pensar objetivamente na viagem - por onde começar, quando começar e por onde seguir.
Falando desse jeito parece que foi tudo planejado - "ah, vamos fazer o TCC pra ninguém encher o saco". Mas não foi. Acho que quem mais precisava dessa segurança de que estaríamos fazendo alguma coisa "séria" éramos nós mesmos.
Compramos máquinas fotográficas usadas de boa qualidade, filmes, mochila, saco de dormir, isolante, barraca, entre muitas coisas mais. Pensávamos que a grana que tínhamos não seria o suficiente para percorrer tudo o que pretendíamos, por isso o Thiago começou a aprender artesanato. Aliás, megalomaníacos! A idéia era sair pelo Paraguai, passar por Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Colômbia, subir a América Central e chegar até Cuba. E não acabava por aí. Na volta passaríamos pela Venezuela, Guianas, Suriname e Brasil, até chegar de volta ao sul. Tudo isso em um
ano, que foi o prazo que cumprimos para voltar e retomar a faculdade.
E assim foi até que roubaram minha mochila onde estavam o cartão de crédito e minha máquina fotográfica. Alguns males realmente vêm para o bem. Esse episódio nos fez repensar - afinal, o que estávamos fazendo? O TCC foi uma invenção. Nós saímos do Brasil com um conhecimento rudimentar de foto, estávamos aprendendo tudo na prática. Além do mais, não estávamos nos dedicando ao estudo dos músicos. E, sem o cartão de crédito, a única maneira que encontrei para sacar dinheiro foi através da Western Union, que cobra uma taxa altíssima pelo serviço. Foi aí que jogamos tudo para o ar: decidimos viver só da grana que conseguíssemos trabalhando, eu também comecei a me dedicar ao artesanato e a utopia de chegar a Cuba caiu por água abaixo. Ficaríamos o quanto desejássemos onde desejássemos. Um outro ritmo, um outro próposito - uma nova viagem.

4 comentários:

Anônimo disse...

Legal, Mi, é esse o caminho!!

=)

Anônimo disse...

Muito bacana o novo Blog Mi!!!!

Lendo este post me deu uma vontade imensa de sair caminhando pela nossa imensa América Latina.

Estou esperando a oportunidade de visitar vocês aí na casa Trushna.

Um grande beijo.

Amarelo.

Augusto Ouriques Lopes disse...

Gostei do novo blog. novas fotos e a bos escrita de sempre.

Michele Torinelli disse...

Obrigada meninos. Eu tbm morro de vontade de voltar a percorrer essa América Latina quando releio esses textos, Amarelo. Mas vai rolar, o objetivo é esse. Afinal, ainda quero chegar em Cuba! ;)
Oportunidade agente faz, venha visitar agente assim que tiver um tempinho. Beijo!